quarta-feira, 7 de julho de 2010

Passado bem presente.


Odeio acordar atrasada, corri para o trabalho e já tem uma pilha de problemas para eu resolver, e meu chefe já me olha de cima a baixo com desprezo, quando saio para resolver algumas finanças da empresa, o meu carro decide não pegar, porque agora é assim, ele tem vontade própria! adoro deixar quase meu salário inteiro e suado na mão do mecânico que abre a boca e parece que só fala japonês. Admito!sou uma estúpida em potencial.

Como se já não bastasse, tenho que usar o meu horário de almoço para ir ao médico, já mencionei que as filas me amam? é dose, esperar uma eternidade só para pegar um remedinho, bem que o doutor podia colocar aquele elemento a mais, sei lá, qualquer coisa que mexa com meu sistema nervoso central.

Vou aproveitar esse tempo para checar meus e-mails, nem preciso descrever minha cara de surpresa ao ver o Colégio Maria do Carmo na minha caixa de entrada né? Era um convite para o quinquagésimo aniversário do colégio, e haveria um reencontro de alunos, foi lá que eu passei toda a minha adolescência, da 5° série ao 3° ano do colegial.

Involuntariamente comecei a lembrar de tudo que vivi naquela época, as amizades eternas, os amores, as revistas de moda, as conversinhas bobas durante o recreio,e como eu quase matei a Marcinha quando ela planejou meu primeiro beijo, foi atrás da cantina, depois da aula, como ela mesmo o nome do sujeito?. . . Rodrigo! Rodrigo de Pádua! um ser muito alto e estranhamente magro, com um cabelinho de cuia horrendo, sem falar nas espinhas, é claro!, óculos de aro grosso marrom, um C.D.F que provavelmente não via a luz do sol há uns 5 anos, no mínimo, pra ser branco daquele jeito...gente, ele era muito brega! e eu? nem sei o que eu estou criticando! baixinha, com as pernas extremamente finas, com o cabelo estilo Cláudia Raia dos anos 80, na tentativa de esconder minha testa monumental.

Um consolo! no colegial as coisas melhoraram, mais bonita eu não sei, mas vaidosa com certeza eu era. Ainda lembro quando o Rafa levou uma carteira de cigarro para o colégio, que ele tinha roubado do irmão mais velho, não é muita coisa, mas naquela época tudo era novidade, todo mundo se escondeu nas escadas de incêndio, detestei logo pelo cheiro, mas fiz cara de experiente, lógico!não fiz a mesma cara quando a irmã Berenice nos pegou no flagra, uma semana de detenção! também, para um colégio de freiras.Ri com gosto lembrando de tudo isso!

Todo mundo era tão unido, o que aconteceu de tão importante pra gente se afastas dessa maneira? Todo feriado de carnaval a gente ia para casa de praia da Tatá em Búzios, os pais dela eram quase uns hippies, então a gente podia fazer praticamente tudo. Engraçado foi quando a gente tinha acabado de chegar de uma festa e o Léo tinha esquecido as chaves dentro da casa, e adivinha quem teve que pular a janela? eu,a mais baixinha e sóbria no momento, rasguei a meia-calça da minha irmã, que tinha pegado sem nem mesmo ela deixar!

Não esqueço da minha mãe me chamando de rebelde sem causa e dizendo que eu nunca ia me casar, se não desse um jeito no cabelo e usasse roupas mais decentes, e meu pai todo preocupado, vinha sempre sem jeito com aquele papo nas entrelinhas, do tipo querendo saber se eu ainda era virgem, e minha resposta para tudo era minha porta batendo forte, sempre muito educada e irônica, meus pais vão para o céu, certeza! A vida era boa demais! a gente ria por tudo, chorava por qualquer bobagem, me apaixonava intensamente por qualquer menino,olhava para o mundo querendo engolir! Queria tudo ao avesso, tudo que fosse diferente, queria plantar um filho, escrever uma árvore, ter um livro.Enfim, queria tudo que eu não podia ter.

Ali sentada, esperando o meu médico, olhei para a tela do meu notebook, e conclui que jamais iria a esse reencontro de alunos, imagina se tudo tivesse mudado? a cantina estaria sob os cuidados de alguma nutricionista da escola, e não teríamos a famosa coxinha pingando a óleo + o suco de laranja por apenas 1 real; E a biblioteca que foi palco para tantas cartas de amor que eu escrevi, hoje nem deve ser biblioteca mais, deve ter se transformado em um moderno laboratório de informática; E as carteiras com a madeira completamente rabiscada , com certeza foi modernizada também; E o tio da portaria?sempre dando bom dia pra todo mundo, agora deve ser uma catraca digital. Arriscar minhas lembranças? melhor não, vou deixa-las intactas na minha memória.


Fechei o computador, dei uma boa olhada em volta, lembrar disso tudo renovou o meu ânimo! olho para o balcão da recepção, a secretária:

- Rodrigo de Pádua, a consulta é para o senhor?
- Não, não, para minha esposa, Regina. Estávamos indo passar as férias na Austrália, mas ela passou mal esta noite, e já que ela está de 6 meses, achei melhor não arriscar.
- É com o doutor Franciso?
- isso mesmo!
-Ok, só aguardar .

Rodrigo de Pádua? eu ouvi bem? não acredito que é ele! um homem Alto, mas agora forte,numa versão pós-academia, com os músculos a mostra, por trás da camisa social azul, calça de terno bem alinhada, cabelo curto, meu Deus, ele era uma versão brasileira do Eric Dane o ator maravilhoso de 'grey´s anatomy'E na tal Regina nem se fala, Deusa grega total, me poupe, nem parecia que tava grávida!

Estupidez em potencial? intacta!

"Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue."
(Adriana Falcão)

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Foto: Confissões de adolescente, seriado lançado pela Tv Cultura em 1994.

Um comentário:

  1. Adoro adolescentes... eles acham que a vida gira em torno do próprio umbigo... e que fica por isso mesmo... mas, o que eu realmente gosto e admiro neles é a intensidade com que vivem cada segundo de suas vidas... isso não deveria ser passageiro como a idade!

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